Postagem em destaque

17 de ago. de 2022

UNICEF incentiva a jovens e adolescentes de Fortaleza a criação de projetos sociais

O Estatuto da Criança e do Adolescente, instaurado no Brasil em 1990, determina que nenhum jovem com menos de 18 anos de idade deve ser alvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão. No entanto, essa não é a realidade de muitos adolescentes que residem em Fortaleza.
De acordo com um levantamento feito pela Prefeitura de Fortaleza com dados colhidos pelo Programa Ponte de Encontro, em 2021, pelo menos 1.107 crianças e adolescentes viviam pedindo esmolas nas ruas e em centros comerciais da Capital. Essa ação é considerada uma forma de trabalho infantil e, além de expor os jovens ao perigos de uma metrópole, pode interferir diretamente em sua formação educacional, uma vez que apenas 41% dos menores ouvidos pela pesquisa estavam na escola.

Além disso, o bem estar psicológico dessa faixa-etária foi amplamente afetado durante o período. Segundo a pesquisa “Fortaleza: Pandemia e Juventudes”, realizada pela Prefeitura da Capital, cerca de 85% dos 969 jovens ouvidos pelo órgão declararam terem notado pioras em seu estado emocional.

Em meio a essa realidade, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) viabiliza que esses problemas sejam debatidos e mitigados por quem mais convive com eles: os próprios jovens. Através dos núcleos de cidadania de adolescentes (Nucas), a instituição incentiva a criação de projetos sociais que auxiliem outros adolescentes a mudarem suas condições de vida ou contribuírem para o aprimoramento de sua cidade.
Em Fortaleza, esses centros estão localizados na Região Metropolitana da Capital, especificamente em Caucaia, Eusébio e Maracanaú. Além deles, outros 176 municípios cearenses já foram contemplados pelos projetos desenvolvidos nos núcleos, os quais, atualmente, somam 5.348.

De acordo com o chefe do escritório da UNICEF em Fortaleza, Rui Aguiar, neste ano, os membros dos Nucas estão focados em desenvolver ações voltadas para problemáticas que foram amplamente debatidas durante a pandemia, como a evasão escolar, a saúde mental, o acesso ao saneamento básico de qualidade em centros de ensino e a garantia da saúde menstrual.
Ele explica que as temáticas abordadas foram definidas pelos próprios adolescentes, por meio de enquetes realizadas pela UNICEF em uma plataforma online. Para Aguiar, essa participação amplia o desenvolvimento integral dos jovens, uma vez que permite a sua maior conexão com diferentes realidades dentro de sua cidade.
“Não só na Grande Fortaleza, como em todo o estado, uma das principais mudanças implementadas pelos jovens foi a participação dos adolescentes nos Conselhos Municipais de Direito da Criança e do Adolescente. O núcleo funciona como uma escola de cidadania, onde os jovens têm a orientação de adultos, mas são envolvidos diretamente em grande parte das ações e desenvolvem uma série de conhecimentos, habilidades e atitudes em relação aos direitos humanos”, complementa.

Segundo a psicóloga clínica infanto-juvenil Sarah Rebeca Barreto, de 23 anos, após a pandemia ocasionada pela Covid-19, a formação de grupos pelos jovens se tornou mais necessária, pois é nesses conglomerados que os adolescentes buscam a construção de sua identidade. Ela reforça que essa conexão com pessoas com as quais os jovens se identificam os tornam mais vulneráveis às influências externas, o que pode fazê-los se unir a grupos violentos ou criminosos.

Apesar disso, ela acrescenta que a predisposição da faixa-etária a acatar influências externas ao núcleo familiar pode ser usada para combater as mazelas sociais que os atingem. Segundo a psicóloga, os jovens têm a tendência de escutar mais e seguir orientações de seus amigos, o que ela avalia ser especialmente positivo quando outros adolescentes estão atrelados a causas sociais.
“Infelizmente, se estamos em áreas de vulnerabilidade em que o contexto de violência e de crime é maior, os adolescentes vão ter mais chances de se incluir nesses grupos de violência. A adolescência é marcada pela relação com os pares, então é muito mais fácil um adolescente escutar o que o amigo tem a dizer do que ouvir seus pais, o que os dá essa possibilidade de se distanciar desse ciclo vicioso de violência e os levar a compartilhar experiências e a lidar com seus problemas de outras formas. A prevenção de gravidez na adolescência, por exemplo, ocorre muito dentro desses grupos”, conclui.
Para Sarah o descobrimento de novas realidades através das interações sociais impacta diretamente na projeção que os jovens possuem sobre seu próprio futuro. Ela avalia que a conexão entre os adolescentes proporcionada pela formação desses grupos em busca de um mesmo propósito os leva a assumir responsabilidade pelo próprio futuro e pelo futuro de sua comunidade, os encorajando a pensar além do aspecto individual.
“Na adolescência as pessoas se questionam muito sobre o futuro, quem vão ser, o que vão fazer de suas vidas e quais caminhos seguirão. Esses grupos impactam diretamente na projeção que eles têm sobre o próprio futuro, os faz assumir responsabilidade pelo futuro que eles estão construindo. É importante os adolescentes reconhecerem que eles estão no mundo e estão fazendo algo por ele, estão pensando além do individual”, declara.

Nenhum comentário: