O grupo político do ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT), incluindo o governador eleito Elmano de Freitas (PT), tem intensificado, nos últimos dias, os acenos aos antigos aliados do PDT, avançando na agenda de reaver a parceria firmada até julho deste ano, quando as siglas se separaram para disputar a eleição. As tratativas têm como pano de fundo a iminência de um governo petista com pedetistas ocupando a maior bancada no Legislativo – além de serem em geral, mesmo após a derrota na disputa majoritária, ainda um dos principais polos de força política no estado.
Hoje foi a vez de um aceno de Camilo, que declarou que o rompimento entre os dois partidos é hoje uma “página virada”. “Acredito que dá tempo ao tempo para as feridas cicatrizarem”, disse ele à rádio CBN, em referência aos conflitos vividos tanto durante a pré-campanha, quando foi efetivado o racha, quanto durante o período eleitoral, quando Elmano e o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) protagonizaram uma espécie polarização na disputa local, em busca de uma vaga no segundo turno. Capitão Wagner (União Brasil), que nas pesquisas de intenção de voto aparecia isolado em primeiro na maior parte do período da campanha, acabou sendo derrotado por Elmano já no primeiro turno.
Na véspera, petistas haviam reunido, em Fortaleza, aliados e colegas de diversos partidos, incluindo o PDT, para mobilizar uma agenda a favor da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial. O ex-presidente disputa contra o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL). O PDT nacional já declarou apoio a Lula na eleição, então parte do objetivo do evento era alinhar forças pedetistas que ainda se mostram receosos sobre um apoio explícito e atuação na campanha do petista – levando em conta, entre outros fatores, as rusgas acumuladas entre Lula e o pedetista Ciro Gomes no primeiro turno. O movimento conjunto também abre canais de comunicação antes fechados entre petistas e pedetistas no Ceará.
Na ocasião, o senador Cid Gomes (PDT) foi o responsável por mobilizar os correligionários em torno da iniciativa. Ele chegou a afirmar que não vai sossegar enquanto não tiver cada filiado do PDT na campanha de Lula. Cid, anteriormente o principal articulador do partido na então base governista, se afastou das discussões
internas sobre a escolha do candidato a governador – pivô do rompimento – ainda no primeiro semestre deste ano, segundo ele para respeitar a posição de Ciro e evitar discordâncias públicas nessa proporção com o irmão.
Ele, no entanto, se declarou neutro na disputa ao Palácio do Abolição e apoiou a candidatura de Camilo ao Senado, deixando abertas portas de diálogo com o PT em uma tentativa de viabilizar um reencontro entre os antigos aliados. Encerrada a eleição, ele tende a ser peça chave nesse processo.
Na última semana, já após o resultado das urnas, Elmano discursou em evento nacional da candidatura de Lula, acompanhado do presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT). “Queria saudar nosso presidente da Assembleia, nosso deputado estadual Evandro Leitão, do PDT, expressando a força da aliança que temos com o PDT no Ceará”, declarou ele, na ocasião, falando a Lula e outras figuras nacionais. A tendência apontada no meio político é de reeleição de Evandro na AL, tendo ele o respaldo de parte considerável dos parlamentares da casa na atual legislatura.
Além disso, também no Legislativo, pesa o fato de que o PDT elegeu a maior bancada de deputados estaduais este ano: com 13 eleitos, terá mais nomes em 2023 do que o partido do futuro governador Elmano de Freitas, tendo o PT conquistado 8 cadeiras na casa no último dia 2. Não apenas isso significa que o PDT tem direito a indicar o presidente, por ter a maior bancada, como também que Elmano poderia ter dificuldade em aprovar propostas do governo na AL na hipótese de o PDT fazer oposição.